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Cr�dito, Weverson Paulono/Ag�ncia Brasil

Muitas das cidades com predomin�ncia de popula��o preta t�m presen�a relevante de quilombolas nainfinite slotpopula��o, revelam dados do Censo

Localizado a 118 km de S�o Lu�s, no litoral noroeste do Maranh�o, Serrano do Maranh�o � o munic�pio "mais preto" do Brasil, revelam dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) nesta sexta-feira (22/12).

O munic�pio de pouco mais de 10 mil habitantes � um dos nove do pa�s onde a popula��o preta � predominante (representando 58% do total), superando o percentual de pardos (39%), brancos (2,7%), ind�genas e amarelos (menos de 0,1%), segundo dados do Censo Demogr�fico de 2023.

Em 2010, ano do Censo anterior, apenas dois munic�pios brasileiros tinham predomin�ncia preta, segundo o IBGE: Ant�nio Cardoso (BA) e Lajeado (TO).

Em 2023, j� eram nove, sendo oito deles na Bahia � Ant�nio Cardoso, Cachoeira, Concei��o da Feira, Ouri�angas, Pedr�o, Santo Amaro, S�o Francisco do Conde e S�o Gon�alo dos Campos �, al�m de Serrano do Maranh�o.

Vale lembrar que a Bahia � o Estado brasileiro que concentra a maior parcela de quilombolas do pa�s (29,9% do total) � nome dado aos remanescentes de quilombos, comunidades formadas por escravos fugitivos na �poca da escravid�o no Brasil.

Fim do Mat�rias recomendadas

Em seguida, vem o Maranh�o, onde vivem 20,3% dos quilombolas do pa�s.

Muitas das cidades com predomin�ncia de popula��o preta t�m presen�a relevante de quilombolas e descendentes de escravizados nainfinite slotpopula��o.

Na �ltima edi��o do Censo, em rela��o a 2010, diminuiu o n�mero de munic�pios com predomin�ncia branca, de 2.552 para 2.283, uma queda de 11%.

Na dire��o oposta, aumentou o n�mero de munic�pios com predomin�ncia parda (de 2.990 para 3.245, alta de 9%), preta (de 2 para 9, avan�o de 350%) e ind�gena (de 21 para 33, alta de 57%).

Segundos especialistas, a mudan�a reflete fatores demogr�ficos e tamb�m a valoriza��o das identidades negra e ind�gena nos �ltimos anos.

Confira um pouco da hist�ria dos nove munic�pios brasileiros onde pretos s�o o grupo �tnico-racial predominante, uma das novidades da edi��o 2023 do Censo.

Cr�dito, Divulga��o

Quilombolas da comunidade de Paus Altos, em Ant�nio Cardoso, na Bahia

Podcast traz �udios com reportagens selecionadas.

Epis�dios

Fim do Podcast

O nome da cidade homenageia um coronel, Ant�nio Cardoso de Sousa (1848-1932), que, segundo a Prefeitura local, "tinha extensas propriedades, e, com isso, grande poder pol�tico e econ�mico".

Um neto hom�nimo do coronel foi o primeiro prefeito do munic�pio, criado em 1962.

Conforme a Prefeitura, a ocupa��o do territ�rio de Ant�nio Cardoso come�ou no final do s�culo 17, quando padres jesu�tas se estabeleceram por ali, erguendo uma capela para Santo Estev�o.

Os mais antigos habitantes locais, os �ndios Paiai�s foram expulsos pelos portugueses, em buscava de um caminho para o transporte de ouro e pedras preciosas da Chapada Diamantina em Minas Gerais, at� o Porto da Cachoeira, onde atualmente fica o munic�pio de mesmo nome.

Segundo o IBGE, dos pouco mais de 11 mil habitantes de Ant�nio Cardoso, a popula��o preta representa 55% do total, superando o percentual de pardos (40%), brancos (4,9%), ind�genas (0,1%) e amarelos (0,01%), segundo o Censo.

Dessa popula��o, 3,8 mil em 2023 eram autodeclarados quilombolas, ou 33,7% do total.

Entre as comunidades quilombolas locais est�o T�cos, Paus Altos, Gavi�o, Santo Ant�nio e outras.

"Aqui se juntaram escravos libertos das fazendas de fumo da regi�o ou de fazendas de S�o Gon�alo, Cachoeira, cidades pr�ximas. Eles trabalhavam como 'rendeiros', o que dava quase no mesmo que ser escravo", observou Oz�ias de Almeida Santos, ge�grafo e pesquisador de comunidades quilombolas, em entrevista ao jornal Correio, publicada em 2012.

Cr�dito, IPAC-BA

Festa da Boa Morte em Cachoeira, na Bahia

Com 29,3 mil habitantes, Cachoeira (BA) tem 51,8% de popula��o preta, 41,7% de pardos, 6,2% de brancos e menos de 1% de amarelos e ind�genas, segundo o Censo 2023 do IBGE.

Dessa popula��o, quase 7 mil s�o autodeclarados quilombolas, ou 24% dos moradores.

Um levantamento de 2023 do Minist�rio do Desenvolvimento Social (MDS) contou quase 30 comunidades quilombolas no munic�pio: Acutinga, Brejo do Engenho da Guaiba, Caimbongo, Caiole, Calemba, Calol�, Campinas, Caonge, Coimbofo, Dend�, Desterro, Engenho da Cruz, Engenho da Pedra, Engenho da Ponte, Engenho da Praia, Engenho da Vit�ria, Engenho Novo do Vale do Iguape, Guaiba, Imbiara, Kaimbongo, Kalemba, Kaonje, Mutecho, Opalma, Santiago do Iguape, S�o Francisco do Paragua�u, S�o Tiago do Iguape, Tabuleiro da Vit�ria e Tombo.

A comarca de Cachoeira foi criada em 1832 e, em 1837, a vila foi elevada � categoria de cidade.

O apogeu do munic�pio foi durante os s�culos 18 e 19, quando seu porto era utilizado para escoamento de grande parte da produ��o agr�cola do Rec�ncavo Baiano, principalmente a��car e fumo. No in�cio do s�culo 20, por�m, a economia da cidade entrou em decl�nio.

Cachoeira foi palco do primeiro confronto entre brasileiros e portugueses na busca pela Independ�ncia do Brasil, � tombada como patrim�nio pelo Iphan (Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional), e palco de manifesta��es de resist�ncia da cultura negra, como a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, organizada por uma irmandade de mulheres negras.

Concei��o da Feira, tamb�m no Rec�ncavo Baiano, tem quase 21 mil habitantes, dos quais 50,3% se declaram pretos, 41,6% pardos, 7,9% brancos, e menos de 1%, amarelos e ind�genas.

O munic�pio tem ao menos duas comunidades certificadas como remanescentes de quilombo pela Funda��o Cultural Palmares: os quilombos Bete I e Gameleira.

Concei��o da Feira foi criada como um desmembramento de Cachoeira, em 1926, e atualmente � o mais importante polo av�cola do Estado da Bahia, sendo conhecida como a Capital do Frango.

Com 7,7 mil habitantes, Ouri�angas tem 52,8% de popula��o preta, 42,1% de pardos, 4,9% de brancos e menos de 1% de amarelos e ind�genas, segundo o Censo 2023 do IBGE.

Dessa popula��o, 805 se autodeclaram quilombolas, ou 10,4% do total, conforme o instituto.

O nome Ouri�angas � de origem tupi-guarani e significa "fonte de �gua fresca".

A regi�o foi primeiro ocupada por ind�genas Paiai�s e posteriormente por colonizadores portugueses e negros escravizados, que trabalhavam nas lavouras e cria��o de gado.

A cidade baiana de Pedr�o � ainda menor que Ouri�angas: tem 6,2 mil habitantes, dos quais 49,7% se declaram pretos, 45,3% pardos, 5% brancos, e menos de 1%, amarelos e ind�genas.

Dessa popula��o, 543 se autodeclaram quilombolas, ou 8,7% do total, conforme o instituto.

Foi desmembrado do munic�pio de Irar� em 1962.

Cr�dito, IPAC-BA

Bemb� do Mercado, manifesta��o que acontece desde 13 de maio de 1888, quando negros se reuniram em pra�a p�blica para comemorar a Aboli��o da Escravatura, no munic�pio de Santo Amaro, na Bahia

Santo Amaro, cidade onde nasceram os cantores Caetano Veloso e Maria Beth�nia, tem 56 mil habitantes, sendo 50,9% de autodeclarados pretos, 43,1% de pardos, 5,8% de brancos e menos de 1% de amarelos e ind�genas, segundo o Censo 2023.

Da popula��o, 6,9 mil se declaram quilombolas, ou 12,4% do total, diz o IBGE.

A resist�ncia negra de Santo Amaro foi imortalizada por Caetano Veloso em m�sicas como 13 de Maio, em que ele canta: "Dia 13 de maio, em Santo Amaro, na Pra�a do Mercado, os pretos celebravam (talvez hoje inda o fa�am) o fim da escravid�o".

O munic�pio abriga comunidades quilombolas como Alto do Cruzeiro-Acupe, Barro Velho, Barro Vermelho, Caeira, Cambuta, S�o Braz e Suba�.

O nome do munic�pio homenageia o padroeiro da cidade e um conde de nome Fern�o Rodrigues, que herdou o terreno do terceiro governador-geral do Brasil, Mem de S�.

Com 38,7 mil habitantes, S�o Francisco do Conde tem 49,9% de popula��o preta, 44,1% de pardos, 5,7% de brancos e menos de 1% de amarelos e ind�genas, segundo o Censo 2023 do IBGE.

Dentro de seus limites, est�o comunidades quilombolas como Ilha do Paty, Monte Rec�ncavo e Porto de Dom Jo�o � s�o 2,2 mil autodeclarados quilombolas no munic�pio, ou 5,8% da popula��o total.

Com 39,5 mil habitantes, S�o Gon�alo dos Campos tem 47% de popula��o preta, 45,5% de pardos, 7,3% de brancos e menos de 1% de amarelos e ind�genas, segundo o Censo 2023 do IBGE.

Apesar do elevado percentual e popula��o preta e parda, o munic�pio soma apenas 69 autodeclarados quilombolas (0,2% da popula��o total), abrigando ao menos uma comunidade quilombola, de nome Bete II.

Cr�dito, Minist�rio do Meio Ambiente

Quilombo de Soledade, localizado no munic�pio de Serrano do Maranh�o

�nica cidade fora da Bahia a ter predomin�ncia de autodeclarados pretos, Serrano do Maranh�o tinha 10,2 mil habitantes no Censo de 2023, dos quais impressionantes 58% de pretos, 39% de pardos, 2,7% de brancos e menos de 0,1% de ind�genas e amarelos, segundo o Censo 2023.

At� 1994, a regi�o fazia parte do munic�pio de Cururupu, e era denominada Povoado Serrano, uma das vilas mais antigas do Estado do Maranh�o, formado por lavradores, pescadores e quilombolas.

Em Serrano do Maranh�o, 55,7% da popula��o � quilombola, somando 5,7 mil pessoas � trata-se da quarta cidade com maior propor��o de quilombolas do pa�s, atr�s apenas de Alc�ntara/MA (84,6%), Berilo/MG (58,4%) e Cavalcante/GO (57,1%), conforme os dados do IBGE.

O levantamento do MDS conta quase 30 comunidades remanescentes de quilombo em Serrano do Maranh�o.

Em 2023, uma reportagem do site Rep�rter Brasil relatou como a comunidade quilombola Nazar�, em Serrano do Maranh�o, rompeu apenas recentemente com o sistema de foro, uma esp�cie de imposto pago pelos quilombolas aos fazendeiros para poder viver nas terras e plantar.

"Antes negro deitava no ch�o pra fazer ponte pra branco passar por cima. Hoje n�o deita mais porque negro j� � sabido", disse Jos� M�rio Silva Pinto, do Quilombo Nazar�, � Rep�rter Brasil.

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